quinta-feira, 31 de julho de 2008

350 dias

350 dias. Está a fazer um ano que olhei para o lado e já não eramos dois mas apenas um. Pedia diálogo mas respondia-me o silêncio. O silêncio que nos deixa desnorteados, angustiados. O silêncio que magoa mais do que mil palavras ditas. De repente é tempo de apagar os sonhos, os desejos, os olhares cumplices, as surpresas, as viagens, os abraços e as palavras que ficaram por fazer e dizer. As lágrimas sufocam-me.

A cadeira do lado na sala de cinema está vazia. A comida apodrece dentro do frigorífico. Deixei de ouvir o barulho das chaves a abrir a porta de casa. Mudo-me para o quarto do lado para não acordar com o cheiro que teima em ficar guardado na almofada. "Importas-te que mude de música?" Pintam-se as paredes de casa, mudam-se de lugar os móveis e as fotografias são guardadas. "Este livro será meu?" E a saudade? O que fazer com a maldita saudade? O silêncio...

As folhas das árvores amarelecem, caiem, voltam a nascer, crescem e amarelecem de novo. A vida encarreira-se. "Que remédio, a vida não pára". Temos de seguir em frente. O mundo gira, os segundos atropelam-se e há tanta coisa para fazer. Trabalhar, caminhar, fotografar, sentir, ler, sorrir, amar, viajar, partilhar, conhecer, desejar, experimentar, aprender, projectar. Ocupar o tempo, não deixar que o vazio se ocupe de nós. Não parar. Seguir em frente. O silêncio...

"Estás mais bonito! Estás mais curioso!" Os amigos deixam de trocar os nossos nomes. Desperto do entorpecimento que sentia há algum tempo. As prioridades mudam. As perspectivas também. A curiosidade é despertada. Reforço convicções e relativizo certezas de outros tempos. Dizem-me que sou autónomo, que sou capaz. "Aprende a viver sozinho e verás como será importante para ti". Sim, é verdade! O mundo está aí para ser descoberto. Parto à aventura sozinho. Surpreendo-me e aprendo um pouco mais sobre mim. Recupero a serenidade. O silêncio...

As palavras que não foram ditas. A ausência das palavras que encerrariam uma etapa e ajudariam (e muito!) a avançar. O que significa o silêncio? O que significam as esperas? Significam nada. Significam tudo.

350 dias. As paredes podem ser pintadas. Mas e o coração? Ele não pode ser pintado. O que fazer com ele? Quanto tempo mais precisa o coração? "Isso só passa quando te apaixonares de novo". Serei capaz de me apaixonar de novo por alguém? Quererei apaixonar-me de novo por alguém? E o silêncio? E a saudade? Saudades de um sentimento que se apagou? Saudades de alguém que já não existe? O silêncio...

O mundo gira, os segundos atropelam-se e há tanta coisa para fazer. Trabalhar, caminhar, fotografar, sentir, ler, sorrir, amar, viajar, partilhar, conhecer, desejar, experimentar, aprender, projectar.

4 comentários:

Anónimo disse...

imagino que este texto não tenha ainda comentários porque apenas fica-nos o silêncio. as mãos e o silêncio...

petroy disse...

admiro a honestidade com que sentes e te dás
daí talvez o dificil desprendimento ... a contagem
dar-mo-nos implica coragem ... mas como viver, sentir, desejar ... sem o fazer?
alento amigo !

Anónimo disse...

Não podia encontrar-me mais nas tuas palavras...

fantástico como passas tão bem para a escrita os sentimentos...gostei mt.
raquel

disse...

E tudo isto valeu a pena para escreveres um texto tão bonito!