terça-feira, 30 de setembro de 2008

Transretrato

La mujer barbuda, de José de Ribera
O gigantismo do Museo del Prado força a sermos selectivos na sua visita sob pena de, passadas umas dezenas de quadros, nos tornarmos insensíveis à beleza e singularidade de cada um. Na minha recente visita centrei-me sobretudo nos Goyas, Velásquez e nos fantásticos Bosch, mas nenhum deles me surpreendeu tanto como este quadro de José de Ribera. A sua singularidade destaca-se no meio de tantas ascenções, paisagens e retratos de famílias reais.
Este é um daqueles quadros que merece uma leitura atenta da sua legenda. Não é bem o que parece ser. Não se trata de um homem mas sim de Magdalena Ventura amamentando o seu filho. Consta que aos 37 anos de idade surgiram-lhe, num curto espaço de tempo, barba e bigode. Teve sete filhos, três deles antes do surgimento de tão densa pilosidade. Em segundo plano surge o seu marido, Felix.
A tela foi encomendada por um duque napolitano, que desejava documentar o acontecimento e levá-lo ao rei Filipe III. José de Ribera podia ter recorrido à comicidade e ao ridículo. Pelo contrário, revelou solenidade ao retratar um caso certamente demasiado doloroso para estas duas pessoas. O seu sofrimento está bem gravado nos olhos escuros e profundos e nas suas expressões graves e silenciosas.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Aniversários, salinas e cumplicidades

Comboio, Santa Apolónia, Metro, J. e Renegade, copos de vinho, conversas, sorrisos, sonhos, limpezas, compras, Xica linda, festa de aniversário, quintal, brasas, comidas, fotos, conversas, amizades, convívio, sobremesas, despedidas, Cinema São Jorge, Queer Lisboa 12, Paul Newman, Antônia, conversas, Keroppi, sonhos, fotos, canções de amor, ponte Vasco da Gama, Alcochete, Tejo, cais, serenidade, Salinas do Samouco, caminhada, flamingos, reflexões, fotos, piquenique, Lisboa, Gare do Oriente, despedida, abraço forte, comboio.

Amores de Lisboa (parte 2)

Os amores de Lisboa (parte 2)

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Pêssegos autênticos

Pêssegos autênticos
Alguém que nunca tenha colhido um pêssego de uma árvore livre do espartilho da economia de mercado e não o tenha saboreado, não imagina o que está a perder. A sua doçura, o seu sumo e o seu odor são indescritíveis. Caramba, que minutos de prazer! Infelizmente já são os últimos. Mas para o ano há mais!

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Toca a enviar!

Campanha da Ilga-Portugal
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Endereços de email dos grupos parlamentares:
blocoar@ar.parlamento.pt, gp_pcp@pcp.parlamento.pt, gp_pev@ar.parlamento.pt, gp_pp@pp.parlamento.pt, gp_ps@ps.parlamento.pt, gp_psd@psd.parlamento.pt

Assunto: No dia 10 de Outubro, SIM à liberdade e à igualdade.

No próximo dia 10 de Outubro, a Assembleia da República será chamada a votar projectos que estabelecem finalmente a igualdade no acesso ao casamento.

Esta é uma questão de direitos fundamentais, é uma questão de cidadania, é uma questão que determina a qualidade da nossa democracia. Trata-se de acabar com a humilhação de muitas mulheres e muitos homens que são ainda discriminadas/os na própria lei por causa da sua orientação sexual. Trata-se de afirmar finalmente que gays e lésbicas não são cidadãos e cidadãs de segunda.

A Assembleia da República terá finalmente a oportunidade de afirmar o seu empenho nesta luta pela igualdade e pela liberdade – e a oportunidade de contribuir de forma particularmente simples para a felicidade de muitas pessoas.

O fim da exclusão de gays e lésbicas no acesso ao casamento consegue-se com uma pequena alteração no texto de uma lei, que não implica custos nem afecta a liberdade de outras pessoas. Porém, será um enorme passo no sentido da igualdade e contra a discriminação. E como demonstraram as discussões sobre o voto para as mulheres ou sobre o fim do apartheid racista na África do Sul, o preconceito que existe na sociedade não pode nunca justificar a negação de direitos fundamentais. Pelo contrário, votar contra a igualdade é legitimar e encorajar a discriminação.

Esta votação representa por isso uma enorme responsabilidade, pelas implicações que terá no reforço ou na recusa do preconceito.

Porque recuso a discriminação na lei portuguesa e porque esta é a oportunidade de repor a justiça e cumprir o princípio constitucional da igualdade, seguirei com atenção esta votação - e apelo ao voto favorável de todos os membros deste Grupo Parlamentar e à defesa intransigente da igualdade no próximo dia 10 de Outubro.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Músicas de fazer arrepiar - 6


Suite No 1 - Sarabande - Yo-Yo Ma

O arrastão

Arte Xávega, Praia de Mira
Arte Xávega, Praia de Mira.

Outono

Folhas de Outono
E lá chegámos ao Outono. Ao Outono das noites longas, dos céus cinzentos, das folhas coloridas, dos casacos molhados, do cheiro das castanhas assadas, das lareiras acesas, da doçura dos dióspiros, dos narizes húmidos, dos dedos dos pés frios, das caminhadas pelos montes, das mudanças no roupeiro, das idas mais frequentes ao cinema, dos edredons fofinhos e das recordações dos dias de sol quente.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Konrad & Paul

Konrad & Paul
Konrad é um quarentão pacato, professor de piano, gosta de cuidar das suas plantas, de ler, é apaixonado pela cozinha, gosta de saborear bons vinhos californianos, de ver filmes do Fellini, de visitar exposições, de planear viagens, de aprender novos idiomas e comove-se com o terceiro movimento da quarta sinfonia de Mahler. De vez em quando lá se apaixona por um dos seus alunos.
Paul escreve romances históricos, sem grande sucesso. Preocupa-se sobretudo com o seu relógio biológico. Já passou dos 35 anos e só pensa na chegada dos fatídicos quarentas. Recebe vários sms por dia de tipos que vai conhecendo na net convidando-o para múltiplas actividades sexuais. E gosta muito de "ajudar" os rapazes mais novos a sairem do armário. Poucos mais interesses tem na vida para além de frequentar a noite leather da cidade de Colónia. O sexo é a única coisa que o faz vibrar e que lhe dá sentido à vida. Ah, e também gosta da quarta sinfonia de Mahler, pois foi ao som dessa sinfonia que praticou um fist-fucking memorável.
Quem diria que dois rapazes tão diferentes fossem capazes de estarem juntos há 15 anos! A relação deles já é mais platónica do que sexual mas amam-se o suficiente ao ponto de quererem continuar juntos e até colocarem-se a hipótese de darem o nó, com festa a preceito e com tudo o que manda as regras da etiqueta.
Ralf König conta-nos as histórias desta relação feita de opostos, os seus altos e baixos, desencantos e contradicções de forma corrosiva, ternurenta e muito irónica, numa série de livros que se podem encontrar facilmente em qualquer livraria por essa Europa fora (Espanha inclusivé). Isto porque ainda não há tradução para português. O que estão à espera?!

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

"Olha a lua..."

Olha a lua...
Alguém lá longe contempla o nascer da lua por entre os montes e pensa em mim. Eu olho para a lua que nasce por detrás do prédio em frente e sinto-me feliz!

"Aime-moi moins, mais aime-moi longtemps"

Não é o tédio que corrói as relações afectivas mas sim a inquietação e a insatisfação. Esse bichinho que nos leva a procurar constantemente novas sensações, emoções e experiências quilómetro zero, fazendo-nos menosprezar muitas vezes o que nos rodeia.
O amor é feito de serenidade e poucas pressas, de termos tempo para olharmos para quem está do nosso lado e captarmos os tais sinais que passam despercebidos aos demais.

Em direcção ao Inverno

Sügisball
"Sügisball" ou "Baile de Outono" é feito de subúrbios, de prédios, de vias-rápidas, de silêncios, de angústias, de bares decadentes, de solidões, de tristezas, de árvores despidas, de lágrimas, de céus cinzentos, de ansiedades, do vento gélido do báltico, de crueldades, de postes de alta tensão, de infelicidades, de fábricas e de parques infantis. Tallinn é a cidade.
Este filme não poderia ter sido feito em latitudes mais quentes. Esta foi a minha estreia com cinema estónio e não fiquei desapontado. Venham mais.
Pressentindo que este foi o meu último dia de praia, este filme faz-me pensar nos dias frios e melancólicos que se avizinham.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Ela anda por aí!

"Maricón de mierda" e "paneleiro" foram dois agradáveis insultos que recebi no espaço de pouco mais de 48 horas.
Fez-me recordar que a homofobia está aí bem presente, seja na cidade supostamente mais gay-friendly do mundo, seja no supermercado perto de casa. Isto de vivermos no nosso mundinho protegido, faz-nos esquecer que estas manifestações não são assim tão raras e justificam o facto de tantas pessoas ainda não terem tido tomates para viverem os seus afectos livremente.
É claro que senti-me bastante incomodado, mesmo sabendo que essas palavras foram proferidas por indivíduos que, muito provavelmente, estavam sob efeitos de uns copitos a mais. Mas pela primeira vez na vida ponderei que umas lições de defesa pessoal não seriam demais.
Aviso desde já que estou sensível. Para compensar agradecem-se mimos e as palavras bonitas são sempre bem vindas! ;)

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Mad about Madrid

T2 Barajas, Metro, Malasaña, Flat5Madrid, tapas, Plaza Mayor, Huertas, Reina Sofia, Leonardo Cantero, Guernica, las terrazas, pôr-do-sol, ternura, Chueca, Restaurante Momo, sabores, Café Acuarela, La Latina, El Rastro, multidão, colorido, piercing, Lavapiés, Chicken Korma, CaixaForum Madrid, Charlie Chaplin, o jardim vertical de Patrick Blanc, Real Jardín Botanico de Madrid, siesta, as cinco senhoras "mayores", Museo Nacional del Prado, Bosch, Velázquez, Goya, Las Meninas, O Jardim das delícias, exposição "El retrato del Renascimiento", Parque del Retiro, Magnuns, sorrisos, Palácio de Cristal, Chueca, Wagaboo, compras, Livraria Berkana, Ralf König, loção corporal de chocolate, Mercado de Fuencarral, os anéis, Vinoteca, Km 0, sabonete chocomint, Palácio Real, Parque de la Montaña, Plaza de España, Gran Vía, Restaurante Al-Jaima, um Cosmopolitan, despedida, sono, Metro, T2 Barajas.

E uma música que não me saiu da cabeça, depois de ter visto a frase "Puro teatro" estampada numa t-shirt:


Puro Teatro - La Lupe

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Um cuscus com carinho

Um cuscus com carinho
Um odor e sabor muito intensos fazem-nos sentir inebriados a cada garfada que levamos à boca. Um prato absolutamente divinal que nos faz viajar até paragens mais coloridas, quentes e solarengas. Tudo isto acompanhado pela estreia mundial de uma garrafa bem fresquinha de vinho rosé Olho no Pé. E de muito carinho... muito carinho...

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Bora lá!

Façamos (Vamos Amar), Elza Soares e Chico Buarque

Os cidadãos no Japão fazem / Lá na China um bilhão fazem
Façamos vamos amar
Os espanhóis, os lapões fazem / Lituanos e letões fazem
Façamos vamos amar
Os alemães em Berlim fazem / E também lá em bom / Em Bombaim fazem
Os hindus acham bom / Nisseis, níqueis e sansseis fazem
Lá em São Francisco muitos gays fazem
Façamos vamos amar

Os rouxinóis, os saraus fazem / Picantes pica-paus fazem
Façamos vamos amar
Os uirapurus no Pará fazem / Tico-ticos no fubá fazem
Façamos vamos amar
Chinfrins, galinhas afim fazem / E jamais dizem não
Corujas sim fazem, sábias como elas são
Muitos perus todos nus fazem / Gaviões, pavões e urubus fazem
Façamos vamos amar

Dourados, mão, Solimões fazem / Camarões em Camarões fazem
Façamos vamos amar
Piranhas só por fazer fazem / Namorados por prazer fazem
Façamos vamos amar
Peixes eléctricos bem fazem / Entre beijos e choques
Garçons também fazem / Sem falar nos adoques
Salmões no sal em geral fazem / Bacalhaus no mar em Portugal fazem
Façamos vamos amar

Libélulas em bambus fazem / Centopéias sem tabus fazem
Façamos vamos amar
Os louva-deuses com fé fazem / Dizem que bichos de pé fazem
Façamos vamos amar
As taturanas também fazem / Um ardor em comum
Grilos meu bem fazem / E sem grilo nenhum
Com seus ferrões os zangões fazem / Pulgas em calcinhas e calções fazem
Façamos vamos amar
Tamanduás e tatus fazem / Corajosos cangurus fazem
Façamos vamos amar

(Lá vem com a mãe) Coelho e só e tão só fazem
Macaquinhos no cipó fazem
Façamos vamos amar
Gatinhas com seus gatões fazem / Tantos gritos de ais
Os garanhões fazem / Estes fazem demais
Leões ao léu, são do céu, fazem
Ursos lambuzando-se no mel fazem
Façamos vamos amar


Não se vão embora!

O céu cinzento
Alguém que peça às andorinhas para não se irem embora mais cedo e não se assustarem com o tempo? Obrigado! Os meus conhecimentos de ornitologia são escassos e ainda não sei comunicar com elas.