sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A sinfonia da minha Berlim

Auto-retrato berlinês
Auto-retrato berlinês

A minha Berlim é feita de quilométricas caminhadas solitárias e sem destino por ruas e avenidas de tamanho xxl; de coloridas bagas apanhadas nos jardins amarelecidos pela estação; do aconchego das carruagens do u-bahn que mais parecem a sala de estar das nossas avós; da deliciosa maçaroca de milho doce devorada debaixo de chuva, comprada no meio do corropio de sons e cheiros do mercado turco; dos piropos recebidos de uma puta enquanto bebia contente o seu Capri-Sonne; da ausência de zebras para atravessar as ruas; das horas passadas a vasculhar as bancas dos mercados de antiguidades, nos quais as crianças vão com os seus pais vender os brinquedos que já não querem; dos bonecos dos semáforos dos peões, sempre aperaltados com os seus chapéus; do acolhedor mini-apartamento com vista para o jardim das traseiras; da currywurst comida em frente da Porta de Brandenburgo, enquanto assistia aos festejos do Dia da Alemanha com o alto patrocínio da Coca-cola; pela surpresa constante de encontrar mais um belo grafitti, superando todos os outros anteriormente encontrados; de um céu estrelado que julgava ser impossível de ser visto numa cidade; do prazer de ver a obra de Pierre et Gilles a poucos centímetros de distância de mim; da vontade de aprender alemão para ler tudo o que me rodeia; da minha busca por um anjo que nunca encontrei; do arrepio sentido ao contemplar a grandiosa Porta de Ishtar, uma das oito entradas da antiga cidade da Babilónia; da companhia das árvores, sempre presentes seja para que lado nos viremos; das mantas que aquecem as pernas de quem teima preferir as agradáveis esplanadas ao interior dos igualmente agradáveis cafés; das singulares lojas de Prenzlauer Berg e Friedrichshain espreitadas vezes sem conta; das imponências esmagadoras da soviética Karl-Marx-Allee, da burguesa Unter den Linden e da hi-tech Postdamer Platz; das flores cheiradas nas floristas geridas pelos chineses; da angústia sentida na sombria Torre do Holocausto, do Jüdisches Museum; da fonte dos contos de fadas, de Märchenbrunnen, iluminada pelo luar; e da sensação de liberdade e de saudade sentida. Entranha-se e muito!

1 comentário:

Daniel J. Skråmestø disse...

Também se me entranhou muito.