sexta-feira, 23 de outubro de 2009

As vidas de Tónia e Agnès

Morrer como um homem
As praias de Agnès
Dois serões consecutivos de cinema deram-me a conhecer a história das vidas de duas mulheres, Tónia e Agnès.

Tónia é uma travesti da noite lisboeta e uma transexual com um processo de mudança de sexo em curso. Se o palco dá-lhe sucesso e momentos de felicidade, cá fora impera a solidão, a rejeição e a ânsia de quem quer amar e ser amada. O seu coração maternal fá-la perdoar os tormentos passados com a imaturidade do seu jovem namorado e acolher qualquer animal abandonado que se cruze com ela. É uma personagem ficcional, inventada pelo João Pedro Rodrigues mas inspirada livremente nesse mito das plumas que foi Ruth Bryden. "Morrer como um homem" é mais uma história filmada de uma forma surpreendente, por um realizador nada convencional. Desta vez dei por mim a não conseguir reter uma lágrima e a ficar bastante comovido com algumas das suas passagens. E que delícia onírica foi aquela apanha de gambuzinos, no meio de eucaliptos e mimosas!

Agnès é Agnès Varda. Ela mesma, a reparadora de redes de pesca, a fotógrafa, a realizadora, a costureira, a artista plástica, filha, mãe, avó, companheira, amiga, activista e tanta coisa mais. Ao chegar aos 80 anos de idade decidiu fazer um documentário sobre a sua longa vida. Um testemunho para deixar aos seus descendentes que, segundo ela, talvez não a conheçam na sua amplitude. Assim, surgiu "As praias de Agnès" porque os momentos mais significativos da sua vida passaram-se junto de praias. Que privilégio foi poder assistir a tão belo filme, repleto de momentos poéticos, que nos fazem sorrir vezes sem conta ou sentir aqueles arrepiozinhos de emoção. E melhor ainda foi poder vê-la ao vivo, a poucos centímetros de distância, de câmara na mão entre os espectadores, e escutar as palavras de quem viveu uma vida repleta de emoções e afectos. O problema é que agora apetece-me ver toda a sua filmografia e o Porto ainda não tem cinemateca, apesar das promessas e promessas.

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