sexta-feira, 7 de maio de 2010

Porto 2010

Vem nos saborear
É preciso andar-se muito distraído para não darmos conta que a cidade do Porto anda a sofrer uma pequena revolução. Depois de décadas de marasmo e de completo abandono do centro histórico, parece que é desta que vai recuperar a vida de outros tempos.
As fachadas dos edifícios são limpas e os interiores remodelados. Ao anoitecer as luzes acendem-se nas janelas. Os estudantes, artistas e jovens em início de carreira vivem em mini-casas. Mulheres de véu saem do talho hallal da esquina com as compras feitas. Montam-se esplanadas nos largos passeios e nas praças renovadas. Abrem-se novos bares, restaurantes, lojas gourmet e um comércio dito "alternativo", mas que se torna cada vez mais a norma. Reabrem-se salas de cinema antigas. A programação cultural adensa-se e já justifica o lançamento local da revista Time Out. As feiras de artesanato urbano e de velharias pululam por praças, ruas e caves de prédios. Os turistas chegam em maior número, transportados pelo polvo Ryanair que cresce sem parar. Hotéis e hostels proliferam como cogumelos, na ânsia de conquistar os turistas que se esperam para os próximos tempos. Os autocarros de sightseeing sobem e descem preguiçosos as apertadas calçadas de granito. São afixadas placas de imobiliárias em edifícios sombrios, cemitérios de pombas, gatos e outros seres indecifráveis. A Câmara comanda a reabilitação de quarteirões inteiros, emparcelando edifícios que, originalmente, foram construídos por famílias rivais. Esventram-se miolos e projectam-se novos apartamentos que serão vendidos a preços da Foz. Entretanto escuta-se o som reconfortante das gaivotas, que passam rasantes aos telhados do velho casario.
Será que a autenticidade da cidade aguentará tudo isto? Conseguirá resistir à vontade fácil de se transformar em mais uma Disneyland?

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