domingo, 26 de dezembro de 2010

O anjo de neve

O anjo de neve
A temperatura está tão baixa que até nem se sente o frio. As esculturas do parque de Friedrichshain, saídas directamente de um conto de fadas, estão tapadas com uns caixotes de madeira para resistirem ciclicamente a mais um Inverno. A decepção de não poder mostrá-las ao Wine Boy rapidamente é ultrapassada com o seu desafio de, finalmente, me deitar na neve fofa e fazer o tal anjo de neve que eu tanto falava. Tinha metido aquilo na cabeça, inspirado em filmes que guardo com carinho algures dentro de mim. Mas as inexplicáveis inibições que por vezes me impedem de, pura e simplesmente, fazer o que me apetece tinham até então levado a maior. Agora era a vez de me deixar de coisas, estender-me no chão e dar às pernas e braços. Senti imediatamente os meus lábios curvarem e esboçarem um sorriso de contentamento, enquanto o meu único espectador concentrava-se nas fotografias e eu olhava para a dança das árvores nuas que me abraçavam. A repetir!

sábado, 25 de dezembro de 2010

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Há algo podre no vale do Tua

«Daniel Conde, no Diário de Notícias (via A Cidade Surpreendente):

"Há algo de podre no vale do Tua, e não é o fantasma do futuro a trazer um travo a esgoto das águas eutrofizadas da albufeira do Tua.
Há algo de errado quando um Estudo de Impacto Ambiental e um Relatório de Conformidade Ambiental de Projecto de Execução (RECAPE) afirmam numa base científica que a barragem vai ser desastrosa a nível regional e insignificante a nível nacional, mas a barragem avança.
Há algo de errado quando a Linha do Tua tem vindo a ser abandonada ou mesmo mencionada no caso Face Oculta, mas a culpa da má manutenção da via e estações é atirada como que para os próprios utentes que a utilizam. Há algo de muito errado quando um consultor da UNESCO afirma deslumbrado que a Linha do Tua tem todas as condições para ser considerada Património da Humanidade, reiterando o que disse o Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar) sobre o seu valor patrimonial único, mas depois os ministérios do ambiente e da cultura (e depois o próprio Igespar) concluem que nem o vale nem a Linha do Tua têm valor patrimonial ou ambiental algum, arquivando com uma celeridade desconcertante o processo de classificação desta como Património Nacional.
Há algo podre no vale do Tua
Algo não está bem quando os comboios da Linha do Tua ficam sobrelotados de turistas, quando o Plano Estratégico Nacional de Turismo e o Plano Regional de Ordenamento do Território do Norte prevêem maravilhas turísticas para esta região, e quando um projecto de turismo ferroviário para a Linha do Tua fica em terceiro lugar num concurso nacional de empreendedorismo, e a CP e a Refer fecham as portas à sua exploração turística.
Algo de muito errado se passa quando com um projecto ferroviário de baixo custo se poria um madrileno em Bragança em duas horas, e nos debates havidos em Trás-os-Montes sobre desenvolvimento ninguém diz uma palavra sobre caminhos-de-ferro.
Muito mal vai o estado da Democracia quando a voz de 18 mil peticionantes contra a construção da barragem do Tua e a favor da reabertura, modernização e prolongamento da Linha do Tua, defendendo inclusivamente métodos alternativos mais baratos e mais eficientes de produção e poupança de energia, não é ouvida ou não é suficiente para calar a de meia dúzia de indivíduos mal intencionados e de carácter duvidoso.
A lista de incongruências, atropelos, e laivos de actividades amplamente contempladas no Código Penal avoluma-se. Vagas de estudos científicos e pareceres de especialistas - de entre os quais UNESCO e Comissão Europeia - que apontam um severo dedo à barragem do Tua e coroam de louros o vale e a Linha do Tua, esboroam-se com um rumor de espuma do mar contra sabe-se lá que perigosos rochedos e contracorrentes.
Chegados a este ponto é lícito perguntar: em que mundos vive o Ministério Público e a PJ, ou será que o vale e a Linha do Tua é que já não pertencem a este mundo? Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto fede...»

História de amor

José
A vida pode não fazer sentido nenhum mas já valerá a pena termos existido para viver um amor assim.
Chegado a casa, ainda emocionado, passo em revista imagens, palavras e sons dessa belíssima homenagem, feita filme, ao amor de José e Pilar. Obrigado mais uma vez Miguel por nos mostrares que por detrás das letras existe carne, pele e sentimentos!

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Três suricatas à solta no Porto

Três suricatas à solta no Porto
Dois suricatas, recém chegados das neves, juntaram-se à terceira suricata lá de casa e foram divertir-se para a baixa do Porto. Percorreram os mercadinhos de Porto Belo, das Galerias e dos Clérigos, foram ver as novidades literárias à Lello, suspiraram pelas peças saudosistas d'A Vida Portuguesa, esperaram pacientemente na fila até poderem deliciar-se com os bolos da Padaria Ribeiro, divertiram-se com os projectos criados pelos alunos na ESAD, no âmbito do Pop Up Shop organizado no belíssimo Lófte (a foto foi tirada lá!), e provaram, por três euros, vinho atrás de vinho na feira de vinhos da Viniportugal organizada na Alfândega. E ainda houve tempo para umas transfusões de sangue à base de papas de sarrabulho (descobertas num tasco escondido na Ribeira) e de arroz de cabidela, seguido de um pé de dança digestivo mas claustrofóbico. Quem disse que não havia nada para fazer no Porto?

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Cai neve em Berlim!

Cai neve em Berlim!
No espaço de uma noite as ruas enchem-se de alguns centímetros de neve, cobrindo passeios, estradas, ramos das árvores, telhados, varandas, carros e baloiços de jardim. Mas a cidade não pára. Os eléctricos amarelos continuam a passar velozmente e os automobilistas sacam das suas pás para limpar a neve que se acumula nos pára-brisas. As escolas e comércios não fecham. As crianças saem alegremente à rua de trenó, puxadas pelos seus progenitores. Só as bicicletas parecem permanecer encostadas aos postes.
Os termómetros marcam -10ºC mas dizem-nos que a temperatura sentida corresponde a -15ºC. Mas não é que, com apenas duas camisolas interiores, uma camisola de lã, um casaco, um cachecol, um par de luvas e um gorro, até se aguenta perfeitamente o frio? Vamos mas é lá fora porque há muita coisa para fazer! Ver exposições de fotografia de Peter Lindbergh e Fred Herzog no C/O Berlin; admirar esqueletos de dinossauros gigantes no Museu de História Natural; percorrer jardins despidos e margens de rios gelados, iluminados noite dentro pela alvura da neve; comer as famosas wurst (salsichas) e beber glühwein (vinho quente) num dos inúmeros mercados que povoam praças e pracinhas da cidade; tirar fotografias p&B numa velhinha máquina Photomaton; perder-se nos corredores de um supermercado turco e ter vontade de trazer tudo para casa; vestir fatos de treino liláses ou calças de couro dos anos 80 em grandes armazéns de segunda-mão; provar comidas de sítios tão distantes como a Bulgária ou o Vietname; fazer bonecos de neve minimais ou travar batalhas de bolas de neve; espreitar para sarcófagos egípcios ou contemplar o busto da Nefertiti no Neues Museum; entrar e sair nas lojinhas acolhedoras do Prenzlauer Berg; percorrer as longas e austeras avenidas de passado socialista; suspirar pelo mobiliário anos 60 à venda nos mercados de velharias da Arkona Platz e do Mauerpark, e trazer para casa as possíveis relíquias que caibam numa mala 55x40x20; apreciar as esculturas e quadros à venda no grafitado edifício/galeria Tacheles; beber um bom vinho Spätlese e comer o que quisermos nas acolhedoras Weinerei, pagando apenas aquilo que achamos justo e ainda tendo como bónus um espectáculo burlesco divertidíssimo ao som de cantigas argentinas arrebatadoramente românticas; e voltar às exposições de fotografia indo à Berlinische Galerie ver fotos inéditas da Nan Goldin e ficar a conhecer trabalhos dos fotógrafos Emil Otto Hoppé e Arno Fischer.
E depois, regressando ao lar, com os pés cansados de tanto palmilhar, lá somos recebidos num ambiente tão quentinho que até podemos dormir com um edredon levezinho e andar em pelota por toda a casa! Ora digam lá se assim o Inverno não vale a pena?