segunda-feira, 31 de março de 2008

Recomeço semanal

Sinto-me incapaz de recomeçar seja o que for. É 2feira de manhã. Tenho sono. A mudança de hora trocou-me as voltas. Os balões não voaram e fiquei triste. Senti-me acarinhado pelos amigos. Bebi chá e comi bolachas no repouso do Sardão. Ao som de conversas e risos, deliciei-me com um Folhado à Carteiro*. Regressei aos Maus Hábitos. Senti-me útil; transportei livros, limpei estantes e ajudei modestamente os meus amigos a concretizar um sonho. A máquina fotográfica acompanhou-me todo o fim de semana mas não disparei uma única vez. Sorri e chorei. Começa uma semana difícil para o meu pai. Tenho medo de não ser capaz de lhe dar o carinho e apoio que necessita. Quanto tempo mais preciso para deixar de sentir saudades? Necessito de sentir o sol a queimar a minha pele. Sinto-me incapaz de recomeçar seja o que for.

*Restaurante O Carteiro
Rua Senhor da Boa Morte, 55 (ao Largo do Ouro, no Porto)
Tel. 225 321 170

sexta-feira, 28 de março de 2008

quinta-feira, 27 de março de 2008

Un anno d'amore


Aqui está a música original que inspirou o grande sucesso de Luz Casal no filme "Saltos Altos", do Almodóvar. Mina Mazzini é o nome da cantora. Deliciosamente kitsch e trágico!

quarta-feira, 26 de março de 2008

segunda-feira, 24 de março de 2008

A sobrevivente

Diospyros kaki, vindo de Nagasaki, plantado nos Jardins do Palácio de Cristal, no Porto
"Diospireiro vindo do Japão, descendente de uma árvore sobrevivente ao desastre nuclear de Nagasaki, a 9 de Agosto de 1945. Em nome da paz no mundo e de amizade que une as cidades do Porto e Nagasaki desde 1978."

Foi plantado no Dia da Árvore do ano passado nos Jardins do Palácio de Cristal, na cidade do Porto.

Viagem ao nosso interior

A última foto de Alexander Supertramp
"Alexander Supertramp" (ou Christopher McCandless). Para uns é um herói, um simbolo de liberdade, alguém que não se conformou com a vida que lhe tinham ditado. Para outros não passa de um miúdo "freak", que sempre teve tudo na vida e que por isso dá-se ao luxo de fazer o que lhe apetece.
Uma coisa é certa, aos 21 anos, este rapaz terminou a faculdade, renunciou aos seus bens materiais, entregando todas as poupanças a uma associação sem fins lucrativos e iniciou a sua aventura de viajar pelos EUA, com o objectivo de chegar ao Alaska e por lá viver do que a natureza pode dar.
Para mim não é um herói nem um "freak". É alguém que escolheu o seu caminho. Foi feliz? Segundo ele sim, foi feliz. Poderia ter sido feliz de outra maneira? Não sabemos. A vida não pode ser vista de forma tão linear. Nem a felicidade (o que é isso de felicidade?). A vida vai sendo construída por nós, à medida que a vamos vivendo.
Todos nós fazemos esta viagem, em busca de um ideal de vida, do nosso lugar no mundo e da nossa essência. Os caminhos escolhidos é que podem ser diferentes. "Alexander Supertramp" poderia ter enveredado por outro caminho completamente diferente, menos definitivo e ter chegado à mesma conclusão: só junto das pessoas que nos rodeiam é que podemos encontrar o bem-estar e a felicidade. Eu acrescentaria, das quais nós escolhemos para estarmos juntos e que nos querem.
Eu cá sou dos que não conseguiria viver, pelo menos nesta fase da vida, sem esses laços fortes que me une às outras pessoas que marcam a minha vida. Não vislumbraria viver afastado das suas presenças, dos seus afectos, das suas palavras, dos seus abraços e dos nossos momentos.
Esta história também me fez pensar que cada um tem mesmo de viver aquilo que deseja, por mais estranhos e tortuosos que sejam os caminhos escolhidos. Essa viagem passa sempre pela auto-descoberta, pela revelação e apaziguamento. Cada um é livre de escolher o seu caminho, por mais doloroso que possa ser para as pessoas que a rodeiam e querem. Mesmo que haja outras tantos caminhos, mais serenos e que possam ter o mesmo destino. Simplesmente temos de aceitá-los.
Ontem assisti à sua história filmada por Sean Penn, em "Into the Wild".
A forma como nos é contada não nos deixa indiferente. Sem dúvida, para além de bom actor está a principiar-se como um bom realizador. A sua pequena participação no "11'09''01" já tinha revelado que é capaz de nos contar histórias de uma forma muito humana, bela e sentida.

Mosaico pascoalino, sem chocolates

Mosaico pascoalino, sem chocolates

sábado, 22 de março de 2008

Genialidade almodovariana


Veja as vezes que vir, esboçarei sempre um grande sorriso ao ver a performance das actrizes Rossy de Palma e Chus Lampreave, tão bem dirigidas pelo inimitável Pedro Almodóvar. Que forma tão bela de retratar o quotidiano de tantos lares desse mundo fora.

Sem título

quarta-feira, 19 de março de 2008

Diálogos


Serão estes diálogos apenas possíveis no cinema? E na vida real, haveria coragem de ambos para tê-los?
Minnie and Moskowitz, do Cassavetes está repleto de belíssimos e inesquecíveis diálogos entre duas pessoas que se amam. Não sou capaz de reter uma lágrima que rola pelo meu rosto.

terça-feira, 18 de março de 2008

Citações

Cada ser humano atinge o seu apogeu de maneira diferente, num dado momento. Uma vez alcançado esse ponto alto, é sempre a descer. Fatal como o destino. E o pior é que ninguém sabe onde é que se situa o seu próprio auge. A linha divisória pode desenhar-se de repente, quando uma pessoa pensa que ainda estava a pisar terreno seguro. Ninguém tem maneira de saber. Alguns atingem esse pico aos doze anos, e depois espera-os uma vida perfeitamente monótona e sem chama. Outros continuam sempre em ascensão até à morte; outros morrem no seu máximo esplendor. Muitos poetas e compositores vivem em estado de permanente arrebatamento e estão mortos quando chegam aos trinta anos. Depois há aqueles, como é o caso de Picasso, que aos oitenta e muitos anos ainda pintava quadros cheios de vigor e teve uma morte tranquila, sem saber o que era o declínio.

em "Dança, dança, dança", de Haruki Murakami

segunda-feira, 17 de março de 2008

Sem título

O jornalista pernambucano Fernado Lobo escreveu e Caetano Veloso cantou, já nos idos de 70 ou 80.

Podemos ser amigos simplesmente
Coisas do amor nunca mais
Amores do passado no presente
Repetem velhos temas tão banais

Ressentimentos passam como vento
São coisas de momento
São chuvas de verão
Trazer uma aflição dentro do peito
É dar vida a um defeito
Que se extingue com a razão

Estranha no meu peito
Estranha na minha alma
Agora eu tenho calma
Não te desejo mais

Podemos ser amigos simplesmente
Amigos simplesmente
Nada mais

Quando ouvi pela primeira vez, numa noite abafada a caminho do Algarve, não era capaz de perceber todo o alcance da sua mensagem. Agora compreendo perfeitamente.
Tudo começou com Caetano Veloso, num verão quente dos idos de 90. Tudo acaba também ao som de Caetano Veloso.


Que post tão hipócrita...

domingo, 16 de março de 2008

Sonhos

Marisa Paredes
Qual é a probabilidade de nos aparecer a belíssima actriz Marisa Paredes num sonho? Pois é, aconteceu-me esta noite! Mas não perguntem o conteúdo desse sonho porque não me recordo de nada. Apenas guardo na memória alguns planos fixos da sua cara. Acontece com frequência não me lembrar do que sonho, apenas guardo alguns desses planos fixos.
Deu-me vontade de rever "A flor do meu segredo", escutar Chavela Vargas e partilhar com ela o seu mal de amores.

sábado, 15 de março de 2008

Outra curva do rio

Outra curva do Douro, Porto

Tenho 30 anos.

Nunca provoquei um acidente de automóvel.
Nenhum dos meus pais morreu.
Nunca roubei nada de uma loja.
Mas já me vesti de mulher.
Nunca saí da Europa.
Nunca fui agredido fisicamente na rua.
Nunca precisei de matar um animal para comer.
Mas já fiz amor com dois homens ao mesmo tempo.
Nunca construí uma casa.
Nunca matei ninguém nem nunca tive vontade.
Nunca participei de uma guerra.
Mas já plantei uma árvore.
Nunca andei de balão.
Nunca fiz mergulho.
Mas já subi ao topo de um vulcão.

Tenho 30 anos e ainda sou uma criança.

(adaptação da letra J'ai 30 ans, de Katerine)

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terça-feira, 11 de março de 2008

O mundo não é para todos

Binta y la gran idea
"En el mundo a cada rato" é um filme belo e duro, composto por cinco curtasmetragens, filmadas por cinco realizadores diferentes, cada uma delas abordando uma das cinco prioridades de actuação da UNICEF na defesa dos direitos das crianças:
- desenvolvimento integrado na primeira infância
- protecção contra o HIV/SIDA
- vacinação
- protecção contra a violência, a exploração e a discriminação
- acesso à educação de forma igualitária entre rapazes e raparigas
Não esperem ver nenhuma obra prima mas é um óptimo instrumento de cidadania e de sensibilização dos públicos para estes assuntos. Para variar, com os monopólios de distribuição do cinema e os objectivos de lucro vigentes, o difícil é mesmo chegar a esses públicos...

Retrato da homofobia

Vencedor 2º lugar World Press Photo 2008
Esta fotografia retrata um casal gay húngaro, vítima de um ataque homofóbico. Foi tirada pelo fotógrafo Zsolt Szigetváry e venceu o 2º prémio na categoria "Contemporary Issues" do World Press Photo de 2008.

sábado, 8 de março de 2008

Tarde de leitura nos Jardins do Palácio

O céu do Porto
Exortação aos crocodilos

Embalado pelo bandoneon

Destino: Estocolmo

Guia 'Stockholm Encounter' da Lonely Planet
As dúvidas desfizeram-se e o destino escolhido foi Estocolmo. Os 28 euros que distanciam o Porto dessa cidade foram determinantes na selecção do local das minhas próximas férias.
Regressarei uma vez mais àquelas latitudes, ao verde intenso das florestas e dos extensos jardins, ao azul profundo do mar, ao vermelho das casas de madeira, à simplicidade e racionalidade do planeamento urbano, à tranquilidade e repouso, ao ronco grave dos motores dos barcos, às longas caminhadas e à claridade ininterrupta dos dias.
Começou oficialmente a contagem decrescente até ao dia da partida! ;)

sexta-feira, 7 de março de 2008

No aconchego dos lençóis

A minha primeira cama
Estima-se que 10% dos actuais cidadãos europeus tenham sido concebidos em camas da IKEA.
Eu cá nasci na mesma cama onde fui concebido, uma robusta cama dos anos 60, de madeira, costas altas, com colchão de molas e um estrado metálico rangente.
E agora vou mas é dormir que se faz tarde, na cama que foi planeada, desenhada e construida pelo meu pai, já nos idos dos 80s.

domingo, 2 de março de 2008

Afinal o sol não apareceu...

Contemplações a preto e branco

Filme concerto de Peter Hutton com Bildmeister + Jorge Coelho, no Passos Manuel
Peter Hutton é americano. Os Bildmeister e Jorge Coelho são portugueses. O primeiro captou através da sua máquina de 16 mm, belíssimas imagens desprovidas de som, transformando-as em quadros contemplativos das cidades de Lodz e Nova Iorque, regressando à poética dos tempos do cinema mudo. Os segundos, através das suas guitarras eléctricas, compuseram uma banda sonora original para essas imagens. A combinação foi muito agradável, podendo afirmar que roçou a perfeição na curta "New York Portrait: Chapter Two".
Quem diria que a imagem da água proveniente de uma cheia, a escorrer para uma tampa de saneamento, poderia ser algo tão belo?
Foi ontem no Passos Manuel. Fica aqui uma pequena amostra:

O papel do morto

Não tenho nada a dizer de muito abonatório da peça de teatro que fui ver na passada 6feira. Já faz tempo que vou sem grandes expectativas às peças produzidas pelo Teatro Nacional S. João e encenadas pelo Ricardo Pais. Esta não fugiu à regra.
Mas apesar disso senti-me bastante identificado com o "papel" interpretado por um dos actores (direi antes, figurino), que faz da mãe morta. A personagem é uma das figuras centrais de toda a trama mas, obviamente, a sua participação na peça é, digamos, pouco activa... Pois é, a única vez que subi ao palco para entrar numa peça de teatro foi, precisamente, para fazer o mesmo papel: de morto! E todo o enredo desenvolvia-se em torno do morto. Teria eu os meus sete ou oito anos de idade. Já não me recordo do nome da peça nem dos pormenores da história. Mas lembro-me bem dos ensaios e do dia da sua apresentação ao público, no centro paroquial da Igreja de Santo Ovídio. Sim, era uma actividade promovida pela catequese, apesar de ter uma vaga ideia de ser pouco católica. A sala estava cheia e parecia-me enorme (como os espaços vão encolhendo à medida que vamos crescendo...). Os meus pais estavam tão entusiasmados que até se esqueceram de registar fotograficamente o acontecimento. Não lhes perdoo ;)
Foi breve a minha presença no mundo do teatro. Mas aceitam-se convites para papéis idênticos. Não se irão arrepender, faço muito bem de morto, eheh!